"Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se
faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma
crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para
essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifício voluntário
por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você
descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a
insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por
vitórias tão pequenininhas… Como quando é noite e antes de dormir você
se enche de gratidão:
‘Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono…
Que venha um sonho novo, então’."
"Eu não tenho medo do amor. Eu tenho medo é de amar quem tem medo
dele. Amar quem teme o amor é como se apaixonar por uma sucessão de
desistências."
"Parece que jamais serás a mesma e que nada mais terá sentido como antes, mas assim como é líquida essa tristeza, essas águas são dinâmicas e fluidas. Então deixa que as coisas se renovem, e que as perdas tenham mais de um sentido, que os vazios te ofereçam mais espaço, pra que a vida te compense com o impossível. E permita que a alegria se aproxime, e que traga mais calor para os teus dias, quando tudo nos parece um desolo, é possível ainda assim, ser poesia."
"Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno
tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão
recíproco, cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre
tudo, silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o
tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E
o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras
palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu,
natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as
coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do
tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa
clareando o que era escuro e frio."
"Ele nem sabe...
Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura."
Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura."
"E, no meio de tantas mudanças, muitas rupturas. Algumas coisas foram
encaminhadas pro novo destino, outras se perderam irremediavelmente. O
que sobrou posso contar nos dedos, antes eu mal conseguia fechar as
gavetas_ tão abarrotadas de coisas, pessoas, lembranças. Mas o que houve
afinal, além de um processo íntimo, pessoal, intransferível? Uma
mudança externa também, porque há sempre um desconforto em quem se
acostuma com o nosso comportamento mais antigo."
"E
alguns reagem como se você os tivesse abandonado no meio de uma viagem a
dois por outro continente, quando só você sabia falar a língua local
mesmo que os impedisse de aprender o idioma."
... "E já não se ama, o amor vigora em nós. A
harmonia tem fios muito delicados e sua trama faz a ligação mais suave
entre todas as urgências já sentidas. E o chão do sonho é macio, e tudo
parece estar alinhavado, numa ligação sem sufocamentos. E a poesia não
deseja mais ser nada, vira o afago de um momento. E nas letras a textura
de um veludo, como se ao correr pela página, os olhos pudessem ser
acariciados. E você tem todas as coisas sem precisar tomar posse delas.
Você ama o amor, não o delírio de estar apaixonado. Sinto a harmonia
como uma espécie de fascínio pela vida..."
OBS:
Marla de Queiroz é jornalista, escritora e poeta. Nascida em Brasília, formou-se em jornalismo no Rio de Janeiro.
Um comentário:
Sua pagina está maravilhosa! Esta poetisa é magnífica. Fico lendo e apreciando tanta harmonia de sentimentos em cada parágrafo, e me recordo que tenho muito a aprender ainda, antes de expor minhas tentativas de poemas. Mas o aprendiz sempre capta uma nova lição onde quer que ele visite. Parabens! Amei vir até aqui lhe visitar. Linda semana.
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