Apaixonados
"No filme Crimes e pecados, de Woody Allen, um certo professor Levy, personagem da história, diz que nos apaixonamos para corrigir o nosso passado. Frase rápida, aparentemente simples, e no entanto com um significado tão perturbador.
A questão não é por que nos apaixonamos por Roberto e não por Vitor, ou por que nos apaixonamos por Elvira e não por Débora. A questão é: por que nos apaixonamos?
Estamos sempre tentando justificar a escolha de um parceiro em detrimento de outro, e não raro dizemos: "Não entendo como fui me apaixonar logo por ele". Mas não é isso que importa. Poderia ser qualquer um. A verdade é que a gente decide se apaixonar. Está predisposto a envolver-se -o candidato a esse amor tem que cumprir certos requisitos, lógico, mas ele não é a razão primeira de termos sucumbido. A razão primeira somos nós mesmos.
Cada vez que nos apaixonamos, estamos tendo uma nova chance de acertar. Estamos tendo a oportunidade de zerar nosso hodômetro. De sermos estreantes. Uma pessoa acaba de entrar na sua vida, você é 0Km para ela. Tanto as informações que você passar quanto as atitudes que tomar serão novidade suprema -é a chance de você ser quem não conseguiu ser até agora.
Um novo amor é a platéia ideal para nos reafirmarmos. Nada será cobrado nos primeiros momentos, você larga com vantagem, há expectativa em relação a suas idéias e emoções, e boa vontade para aplaudi-las. Você é dono do roteiro, você conduz a trama, apresenta seu personagem. Estar apaixonado por outro é, basicamente, estar apaixonado por si mesmo, em novíssima versão.
É arriscado escrever sobre um tema que é constantemente debatido por profissionais credenciados para tal, mas não consigo evitá-lo. Mesmo amadora, sempre fui fascinada pelas sutilezas das relações amorosas. Cada vez que alguém diz que esta precisando se apaixonar, está é precisando corrigir o passado, como diz o personagem do filme. Quantas mulheres e homens manifestam, entre suspiros, esse desejo, mesmo estando casados? Um sem-número deles, quase todos nós, atordoados com a própria inquietude.E no entanto é simples de entender. Mesmo as pessoas felizes precisam reavaliar escolhas, confirmar sentimentos, renovar os votos. Apaixonar-se de novo pelo mesmo marido ou pela mesma mulher nem sempre dá conta disso. Eles já conhecem todos os nossos truques, sabem contra quem a gente briga, e no momento o que precisamos é de alguém virgem de nós, que permita a recriação de nós mesmos. precisamos nos apaixonar para justamente corrigir o que fizemos de errado enquanto compartilhávamos a vida com nossos parceiros. Sem que isso signifique abrir mão deles.
O texto acima é de autoria de Martha Medeiros, no livro "Coisas da Vida"(p.17-18)editora L&PM
Pessoalmente, vejo a paixão como um degrau para um amor maduro. A paixão seria necessária para que exista a aproximação e o encontro ultrapasse os limites que existem entre um homem e uma mulher indiferentes um com o outro. Como nunca fiz de outra maneira, para mim é necessário estar apaixonado para beijar e fazer o amor. No entanto, como também sei que a paixão passa, porque ela esta ligada a EROS, posso entrar num relacionamento onde a paixão não seja arrebatadora mas a intimidade sexual seja suficientemente boa para construir um relacionamento duradouro.
Um compromisso duradouro para mim é uma corrida do tipo "Marathon" e a paixão é uma corrida do tipo "100 metros", as estratégias são completamente diferentes. Numa você dá tudo intensamente, o tempo que isso vai durar é pouco, na outra você constroi o que vai ser o passado, enche de lembranças com rosas e eventos, para que no futuro ao olhar para atrás veja uma longa história de amor. O ideal para mim é ter a paixão na largada, mas, tem um detalhe...é uma corrida em dupla ! rs Que acontece se um entende que esta numa Marathona e o outro encara como uma corrida de 100 m ?
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