"Apesar de todos os medos, escolho a ousadia.
Apesar dos ferros, construo a dura realidade.
Apesar dos ferros, construo a dura realidade.
Prefiro a loucura à realidade, e um
par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança.
Eu sou
assim, pelo menos assim quero me imaginar: a que explode o ponto e
arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper.
Desculpem, mas preciso lhes dizer: Eu quero o delírio."
Lya Luft
"Às vezes é preciso recolher-se.
O coração não quer obedecer, mas alguma
vez aquieta;
a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve
sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir.
É um começo de sabedoria, e dói.
Dói controlar o pensamento, dói abafar
o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão
imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida,
amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador.
Mas às vezes
aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia
isolada é só o que nos resta.
Entramos no casulo fabricado com tanta
dificuldade, e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados,
quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente
mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro,
alegre, feliz."
Lya Luft
"Para viver de verdade, pensando e repensando a
existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e
amar-se.Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez.
Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim.
Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena.
Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."
Lya Luft
Lya Fett Luft é uma romancista, poetisa e tradutora brasileira. É também professora universitária e colunista da revista semanal Veja.
Entre suas obras incluem-se: As parceiras; A asa esquerda do anjo, Reunião de família, O quarto fechado, Exílio, A sentinela, O lado fatal, Mulher no palco e O Rio do Meio, que obteve o prêmio de melhor obra de 1996, da Associação de Críticos de Arte de São Paulo.
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