segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mensagens Venusianas (Lya Luft)











"Apesar de todos os medos, escolho a ousadia. 
Apesar dos ferros, construo a dura realidade. 
Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança. 
Eu sou assim, pelo menos assim quero me imaginar: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper. 
Desculpem, mas preciso lhes dizer: Eu quero o delírio."
                                                                                           Lya Luft





"Às vezes é preciso recolher-se.
 O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta;
a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir.
É um começo de sabedoria, e dói. 
Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador.
Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta.
Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz."
                                                                                    Lya Luft

"Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se.
Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez.
Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim.
Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena.
Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."  
                                                                    Lya Luft




 OBS :
Lya Fett Luft é uma romancista, poetisa e tradutora brasileira. É também professora universitária e colunista da revista semanal Veja.
Entre suas obras incluem-se: As parceiras; A asa esquerda do anjo, Reunião de família, O quarto fechado, Exílio, A sentinela, O lado fatal, Mulher no palco e O Rio do Meio, que obteve o prêmio de melhor obra de 1996, da Associação de Críticos de Arte de São Paulo.

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