terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Frida Kahlo e Diego

Frida kahlo viveu na primeira metade do século XX,  teve uma vida  intensa no amor e na arte, é mais conhecida como pintora, mas ao ler o que escreveu no seu diário e nas cartas para Diego Rivera, fica mais fácil perceber a intensidade da sua personalidade.

Os fatos que marcaram  sua vida (veja link)  foram enormes e poucos: a poliomielite aos seis anos, o acidente de ônibus contra o bonde, onde sofreu fraturas múltiplas, os dois casamentos com o mesmo homem e a amputação da perna, um ano antes da sua morte.

Esses fatos foram assimilados pela sua personalidade, criando um estilo próprio na pintura, considerada surrealista, assim como um estilo único na sua forma de vestir. Além de manifestar na pintura e na vestimenta sua maneira de ser, também deixou escrito no seu diário e suas cartas a  intensidade das suas emoções e forte personalidade.

Nasceu em 6 de julho de 1907 (Coyoacán, México) na casa conhecida como "La Casa Azul", que era a casa dos seus pais.
Aos seis anos (1913) contraiu poliomielite. A doença deixou uma lesão no seu pé direito e também a perna era mais franzina que a outra, o que a obrigou a usar sapato especial para compensar a diferença de altura.

Aos 18 anos (17/09/1925), voltando da escola num ônibus urbano, um bonde chocou-se lateralmente contra eles e uma peça de metal perfurou-lhe as costas indo atravessar a pélvis. Na batida fraturou a coluna em três lugares, quebrou duas costelas, a clavícula e teve três fraturas no osso púbico, além de onze fraturas na perna direita e deslocamento do pé direito e ombro esquerdo. 

Como consequência desse acidente, que atingiu os ovários, não pode ter filhos e foi obrigada a usar coletes ortopédicos, além de ter sido submetida a 32 operações cirúrgicas durante sua vida.

Foi durante a longa convalescença desse acidente que ela começou a pintar, graças a um cavalete que sua mãe mandou confeccionar especialmente para ela.
Encontrou na pintura uma razão para viver, como diria para sua mãe. 


Suas telas foram expostas em várias galerias, entre elas: Julien Levy (Nova York), Renón et Colle (Paris) e Galeria de Arte Contemporânea (México) .

 " A Coluna Partida" de Frida Kahlo

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."

Aos 21 anos (1928) conheceu Diego Rivera, famoso pintor muralista mexicano, e casaram no ano seguinte (21/agosto/1929). Ele tinha 42 anos, media 1.86m, pesava 135 kg e ela aos 22 anos, com 1.60m, tinha apenas 44,5 Kg. Faziam um casal que alguns chamavam: o elefante e a pomba.

Pode ser que fisicamente chame a atenção certo contraste, mas vamos convir que uma foto bem tomada mostrava um casal pra lá de interessante, veja:
 

Era uma atração intensa, dois artistas numa paixão. 
Frida escreveu no seu diário: ''Diego está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no metal, na doença, na imaginação.''

O casamento entre eles não era o tradicional da época, Frida era bissexual e ele aceitava as relações dela com mulheres, mas não com homens, só que Diego era mulherengo. Frida foi a terceira esposa dele e a separação ocorreu, supostamente, devido a Frida ter flagrado ele com a irmã caçula dela, Cristina. 
De fato Cristina e Diego tiveram um caso e inclusive filhos.

Frida Kahlo e Diego separaram-se em 1939 e no ano seguinte voltaram a casar (1940). 
Diego Rivera conta na sua biografia que, nesse segundo casamento, Frida estabeleceu  condições para voltar: "Ela iria se sustentar com os rendimentos de seu próprio trabalho; eu iria pagar metade das despesas da casa − e nada mais; e não teríamos relações sexuais. Para explicar essa última condição, ela disse que com todas as imagens de minhas outras mulheres surgindo em sua mente, ela não conseguiria fazer amor comigo, pois uma barreira psicológica se levantaria assim que eu começasse a abordá-la. Estava tão feliz em ter Frida de volta que aceitei tudo. (Veja link) 


Diz a lenda que, no segundo casamento, Ela construiu uma casa ao lado da dele e fez uma ponte, cada um morava na sua casa e ao mesmo tempo juntos, encontrando-se de madrugada. 
Isso faz parte da lenda em torno deles, na verdade as duas casas existiram e também a ponte que as ligava, só que a construção ocorreu por ocasião do asilo político que foi dado a Leon Trotsky, pelo governo mexicano em 1937, e nessa ocasião ele ficou hospedado na "casa Azul" contando com o apoio de Diego Rivera que mandou construir a ponte entre as duas casas como parte da segurança, porque Leon Trotsky estava ameaçado de morte.
Frida e Diego também tinham um forte envolvimento político, fizeram parte do Partido Comunista Méxicano, embora Diego Rivera foi expulso do partido, mas isso faz parte de outra história, e se quiser mais informações pode acessar este link.

As três maiores paixões da vida de Frida Kahlo foram: Diego Rivera, a pintura e seu envolvimento político pertencendo ao Partido Comunista Mexicano. 

As questões políticas também foram parte do que tinham em comum, como era o mundo da arte e a pintura em particular, também a paixão pela política gerou um que outro desentendimento, como por exemplo quando Trotsky foi assassinado, mas nada se comparava às emoções de amor e ciúme trocados entre eles por conta das acusações de infidelidade.
Frida escreveu para ele: "Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles." 

O casamento foi tumultuado. Amor sim, muito, intenso, mas também ciúmes, por sinal justificados e de ambos lados segundo consta, já que ela foi amante de Leon Trotsky e certamente não foi o único (Veja Link) e ele nem se diga. A relação era complexa e, segundo consta nesse link, ela seduzia as amantes dele. Apesar de tudo continuaram juntos por 25 anos até que a morte os separou.

Ficaram casados até a saúde dela ir para a cena final.
Aos 46 anos (1953), em agosto, teve gangrena e foi necessário amputar a perna abaixo do joelho.
Depois disso tentou algumas vezes pôr fim à sua vida. 
Essa foi uma fase em que Diego a sentiu sofrendo depressão, segundo consta na sua autobiografia. 

Frida faleceu quase um ano depois, em 13 de julho,1954, uma semana depois de ter feito 47 anos. 
Na noite anterior ao seu falecimento deu um presente para Diego, como lembrança dos vinte e cinco anos de casamento, só que faltava quase um mês para isso acontecer, pois casaram em 21 de agosto. Ao dar o presente dizem que falou para ele: "É porque sinto que vou te deixar dentro de pouco tempo"
Isso levanta a suspeita de suicídio, que várias vezes tentou anteriormente sem sucesso, usando remédios. Foi encontrada na manhã seguinte, a causa foi embolia pulmonar, nunca foi feita autopsia e seu corpo foi cremado conforme seu desejo.
A última frase do seu diário:
"Espero alegre a partida e espero não voltar jamais " ("Espero alegre la salida y espero no volver jamás").

Sua biografia com detalhes e sua obra completa pode ser vista neste link. Na sua obra destacam-se os autorretratos, 55 pinturas, quase um terço do total.

Diego casou de novo (29/07/55), um ano depois da morte de Frida, com Emma Hurtado, que tinha sido sua agente nos últimos nove anos e que o acompanhou nos seus últimos dias, lutando contra o câncer nos testículos, foram até Rússia fazer tratamento com cobalto, mas ele veio falecer em 24/11/57. Três anos e meio depois de Frida.

Para finalizar, essa foto numa cena caseira na cozinha, provavelmente no período em que moraram nos Estados Unidos, onde moraram vários anos enquanto Diego foi pintar grandes murais. 
A imagem captou, longe dos holofotes, uma ternura intensa e muito mais, você certamente vai perceber  esse sentimento profundo, do amor maduro que transforma a existência humana.

Isso me lembra Shakespeare:  "Nunca é sereno o curso do verdadeiro amor."

Ainda, na visão artística de Frida, como seriam eles dois? Frida nesta pintura "Diego  y Frida, 1929-1944" responde, aliás o título da pintura é o período que tinha transcorrido de casamento entre eles até a data da pintura, que é a seguinte:
 Nessa pintura, eles são uma única pessoa, com as metades complementando-se, em galhos sem folhas que avançam até a lua e o sol, simbolizando os aspectos feminino e masculino e embaixo a simbologia da união amorosa.