quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Abençoada Porta Trancada



Portas trancadas sinalizam rumos, 
com força, teimosamente imóveis,
impossíveis de abrir.   

 Seguimos caminhos sinalizados por elas,
nem lembramos mais, seguimos como podíamos,
atravessando a porta que conseguimos abrir.

Nas opções reais, em nossas escolhas,
preferimos portas abertas, trancadas nem contam,
 escolher fechadas e tentar chaves é difícil.

Ainda bem que nas encruzilhadas,
onde temos que fazer escolhas,
algumas portas estão trancadas.

Mas, quem tranca as portas?
Fomos nós mesmos? Sim, a falta de preparo,
a falta de capacidade perde todas as chaves.

Outras são trancadas por anjos,
se as abríssemos nossa história seria outra,
elas fechadas marcam nosso caminho.


Destino? Talvez parecido, ainda sobram portas,
ainda devem ser abertas e ultrapassadas.
Se for destino, não é automático.

Se nas encruzilhadas 
os anjos trancam portas, 
deixam outras entreabertas.

Cada encruzilhada é escolha marcada?
Nunca é, antes de abrir a porta,
depois de aberta sempre foi.

Caminho sinalizado por anjos
que providenciaram portas trancadas,
não é bom sinal para néscios
que enrolam sempre seu caminho
arrombando portas trancadas.


Qual o sinal da porta trancada?
No final ela não abre, antes você não sabe, 
consomem tempo sem nos deixar passar.

 
A porta trancada que insistimos abrir
nos mantém na ilusão sem sair do lugar,
vale a pena reconhecê-las.


Atravessar portas é conquistar espaços
no movimento que devora distâncias, 
transformar rotinas em lembranças.


Ultrapassar portas são novos usos e costumes, 
inventar rotinas, esquecer hábitos,
deixar para trás cidades.

Abrir novos caminhos, novas histórias, 
precisar do mapa para saber onde estou.
Ter que perguntar para poder chegar.


Leio sinais de rumos em portas trancadas,
como sei de curvas, pontes, onde não ultrapassar,   
símbolos para ser  interpretados e seguir enfrente. 

Preciso não me demorar nas encruzilhadas.
Porta trancada nunca é fim de viagem,
é abençoado sinal de um anjo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ATRAPADA


Não encontro uma boa tradução para “Atrapada". É uma palavra em espanhol  que  parece  com a palavra “atrapalhada”, não parece?
Acho que parece, mas não tem nada a ver.

É muito fácil entender o significado de "Atrapada". É quando se cai numa armadilha. 
Armadilha em espanhol é “Trampa”, e quem fica presa numa armadilha foi “Atrapada”. 

Sei que usar o gênero feminino para escrever isso soa meio estranho, poderia dizer: Quem fica preso numa armadilha foi "atrapado". Faço isso de propósito, você sabe.

A questão da palavra "Atrapada" surgiu nas conversas com uma amiga russa pela internet. Meu conhecimento da língua russa precisa constantemente de um dicionário ao meu lado, mas, graças ao tradutor do Google aos poucos fui entendendo o que ela me falava da vida dela.
Senti a sensação dela estar "Atrapada"e cumprindo os prazos inexoráveis do inevitável
Parecia ter cada vez menos liberdade, o que é uma característica de ter caído numa armadilha, mas no caso dela foi tecida pelas suas próprias escolhas de vida.
Naquele momento uma liberdade maior dependia que se cumprissem os prazos necessários para que acontecesse o que tinha que acontecer no contexto da vida dela.

Todos temos uma forma de pensar que é com palavras e outra forma de pensar que é com imagens.  
Apesar do espanhol ser minha língua materna os pensamentos geralmente são em português, deve ser porquê é o idioma do dia a dia. Por isso me chamou a atenção estar usando "atrapada" no meio do pensamento em português.  
Ao tentar traduzir achei "preso" mas não é boa para descrever a sensação que "atrapada" representa. 
Para ter um significado igual tinha que acrescentar o contexto da armadilha.

Se existe algo que tem muitas formas e muitas maneiras diferentes de funcionar é a armadilha.
Faz tempo que o homem está inventado armadilhas. Elas tem uma ligação longa e estreita com a sobrevivência, de fato o homem inventou armadilhas para conseguir o alimento desde que habitava cavernas.
Armadilhas para peixes, pássaros e outros animais são muito antigas.
Como esses animais tinham diferentes comportamentos e habitats o homem foi aperfeiçoando as armadilhas conforme adquiria mais conhecimento sobre as pressas desejadas.
Veja a a seguir armadilhas para peixes (jequiá) e uma de laço.



Para entender sobre armadilhas tem dois grandes pontos de vista: o do caçador e o da presa.
O ponto de vista do caçador é bem fácil de entender. Existe um motivo, ele monta a armadilha por uma razão, inicialmente era buscar alimento, hoje pode ser dinheiro, sexo, diversão, defesa e muitos outros que dependem quem é o caçador e o que ele procura.

De qualquer maneira, a armadilha, desde o ponto de vista do caçador, é precedida do conhecimento do território e dos hábitos da presa, em função dos quais é escolhida uma isca, nem sempre presente, além do conjunto que compõe a gaiola ou espaço de captura.
Isso é basicamente como o caçador vê a armadilha, ele não pensa na armadilha, ele pensa a todo instante na presa. Quais as trilhas, por onde ela anda, se fica ativa de dia ou de noite, o que a atrai, o que ela gosta de fazer, o que ela procura, enfim, acumula todo o conhecimento que pode para poder escolher a isca, o local e fazer a gaiola.
Depois que ele monta a armadilha, espera e verifica de tempos em tempos o que aconteceu.

Existem armadilhas de passagem, onde a vitima cai simplesmente pelo fato de andar, sem ser atraído por uma isca. 
São as chamadas "Pitfall" e o princípio delas é um buraco camuflado, onde a presa vai cair. 
São utilizadas para pegar insetos e fazer estudos de biologia, por exemplo sobre biodiversidade da fauna, mas, também são utilizadas por caçadores que as colocam nas trilhas dos animais e ainda existem as versões utilizadas em guerra, por exemplo, aquelas que os vietnamitas usaram.





Para a presa, a armadilha é invisível, ela é pega de surpresa e isso gera confusão nela.
A presa não sabe que caiu numa armadilha. Cair numa armadilha, normalmente, está além das experiências que a presa tinha vivenciado.
A queda na armadilha deve ser um choque para qualquer presa, que logo percebe a gravidade da situação e procura escapar.
No entanto, algumas presas demoram certo tempo para perceber que caíram numa armadilha. Ao perceber, o instinto manda sair. A gaiola impede. 
Algumas presas param de se debater depois de cansadas ou quando a tentativa de escapar é dolorosa. A frustração é inevitável.
Na história que se desenrola entre a presa e o caçador, depois que a presa caiu na armadilha, a cena volta a ser do caçador e a pergunta é: o que ele vai fazer com a presa? 
Se vai manter ela viva deve fornecer água e alimento, senão a peça acabou e o telão desce, mais uma vez o caçador conseguiu o que ele queria.

Ao analisar os componentes da armadilha, desde o ponto de vista da presa, destaca-se um: a perda de liberdade. Os movimentos limitados. O espaço restringido.
Voltamos ao que significa estar "atrapada" e à importância dessa característica. A capacidade de voar que fica impedida. As asas emaranhadas num fio sutil que nem se vê (Redes de Neblina).

A aptidão de nadar longe, com um oceano pela frente, o peixe barrado por uma parede, seja do material que for, até uma parede invisível que não permite ir além. Um aquário. 
Quando a aptidão é barrada, o dom aprisionado, a potencialidade bloqueada, a capacidade travada, a habilidade paralisada, a liberdade de ir e vir impedida, todos contrariados na expressão do poder e em última instância até do querer, desconfie que caiu numa armadilha. 

A entrada é sempre fácil, invisível, pode ter até isca, a saída é difícil. 
Tudo indica que não há saída. Sem mudar o comportamento não há saída mesmo.
O macaco que colocou a mão na cumbuca ficou preso. Para se ver livre ele tem que abrir a mão dentro da cumbuca e soltar o que pegou, assim conseguiria tirar a mão e ficar livre.
Têm coisas que prendem e não conseguimos abrir a mão para ficar livres.
Vai contra certos instintos animais.

Para ficar preso às vezes não precisa gaiola. 
Há situações que prendem mais do que qualquer gaiola. Um comportamento como o do macaco que não abre a mão só precisa uma corrente na cumbuca.
Depois de ver tantas armadilhas diferentes, vejo que cair numa armadilha sem isca é um risco comum, para cair basta andar. 

As armadilhas de isca envolvem uma escolha. É ser confrontado com um desejo ao alcance da mão, ceder às tentações parece tão fácil e resistir parece uma mortificação, só com muita determinação e princípios firmes se mantém a liberdade. 
Uma isca é uma tentação.
O objeto de desejo pode ser dinheiro, status, sexo e inumeráveis coisas. 
A isca desperta o desejo num contexto de carência, até água poderia servir de isca no deserto ou um prato de comida se houver fome.
O pescador sabe que a isca depende do peixe que pretende pescar. 
Ele deve saber o que é que o peixe gosta. 
A fome é uma péssima conselheira, o peixe que não liga para minhocas escapa de muitos anzóis, mas cada peixe conhece e guarda em segredo sua tentação fatal.
A preferência da presa é uma informação muito importante. O que ela quer ?
Além de ser apetecível, a isca deve estar ao alcance sem muito esforço.
Algo assim como o cartão de crédito.


Existem incontáveis tipos de armadilhas e todas são reconhecíveis depois que funcionam, quando elas fecham o cerco e percebemos que estamos “atrapados”. 

Armadilha não é necessariamente uma cilada armada por alguém, a grande maioria das armadilhas que nos pegam fazem parte do trajeto, redemoinhos do caminho, grandes buracos na estrada da vida.

Ficamos “atrapados” no trânsito, em congestionamentos, onde a situação de não poder sair nos mostra que caímos numa armadilha.  

Quando a  sequência de acontecimentos levam a uma situação  em que ficamos sem saída, pode ter certeza que a armadilha se fechou e você está dentro. 

Para concluir, “atrapada” é definida por essa sensação de estar sem saída, pelo sentimento de espaço cercado, movimento restrito, alternativas inviáveis, sonhos e objetivos que devem ser adiados, aquela sensação de que voltar ao fluxo da vida  vai  demorar  um tempo .

Veja o caso daquela mulher, quando jovem sonhava em viajar e conhecer o mundo, recém-formada como odontóloga, na idade entre 23 a 25 anos, conheceu o amor, a vida lhe sorria faceira. 
Do amor nasceu uma linda menina.
Não sei exatamente o motivo, mas aconteceu que, seja pela morte do esposo, separação inevitável ou ainda por ser mãe solteira, ficou na situação de criar sua filha.
O tempo passou, a menina cresceu e a jovem mãe começou a perder certas liberdades. A confraternização com as amigas solteiras não apenas deixou de ser frequente como virou raridade.
A menina dela se transformou numa linda mocinha. Uma linda mocinha sempre atrai um namoradinho. Conhece uma história assim. A filha dela acabou ficando grávida.
Os dois jovens se amavam, mas ele não tinha recursos para uma vida independente. Não tendo outra saída, a mãe da menina o recebeu na sua casa e pouco tempo depois nasceu sua neta. 
A mulher então passou a ser avó com apenas quarenta e poucos anos e dividindo a casa –que poderíamos supor que é um apartamento pequeno-  com o jovem casal.  Ela está atrapada.
Ela deve trabalhar para manter todo mundo, com despesas crescentes que restringem cada vez mais as possibilidades de realizar o que sonhou para ela.

Aquele sorriso faceiro que a vida mostrava para a jovem profissional faz tempo que amarelou.
A solução chega a ser irônica, porque a saída depende de quem depende dela. A saída poderia vir do genro ter condições financeiras ou da própria filha conseguir isso. 
Claro que não é uma situação que não possa piorar, poderia ser um novo filho dela ou outra netinha, ainda problemas no trabalho dela ou até exigências da filha.
Ao olhar para a vida da menina vamos ver uma situação ainda mais complicada, já que ela é completamente dependente da mãe, que banca tudo, e volta e meia fala em chutar o balde e ir conhecer  Paris. 
Bem, sem contar a sorte na loteria, a solução é uma questão de tempo. Tudo vai se resolver.

Entrar em armadilhas tem também certa inocência. Parecia um passo a mais, como outro qualquer, outra noite de amor. 
De repente o tempo passa e nos sentimos presos sem conseguir entender em que momento foi feita a escolha errada. Pior, descobrimos que se tivéssemos outra chance voltaríamos a fazer tudo igual.

É a vida, que nos "atrapa" tão naturalmente que ninguém desconfia que está numa armadilha, talvez nem estejamos, se for já nos acostumamos com a gaiola, só incomoda quando pensamos em voar e viajar para aquele lugar que um dia sonhamos ir. 
O jeito é ir adiando porque agora não dá, talvez mais para frente. 
Sim, com certeza, é apenas uma questão de tempo. 
Enquanto receber água e alimento, o telão não abaixou e a peça da arapuca continua.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Falando dela...


Não sei por que razão o ônibus parou ao lado do pedágio.
Em qual pedágio será que estávamos? Era a linha Foz do Iguaçu-Curitiba, um percurso de 640 quilômetros que tem nove pedágios, qual deles era aquele?

Acordei com o ônibus parado, o motorista não acendeu as luzes e a maioria dos passageiros devia estar dormindo.
Enquanto isso, o passageiro da poltrona na minha frente levantou e foi ao banheiro.
Era um daqueles ônibus que tem dois andares e vista panorâmica na frente. Esse passageiro ocupava a poltrona 01, quando levantou lembrei que ao sair de Foz o tinha visto tomar assento, era deficiente da perna esquerda e usava muleta. 

Ao lado do homem que levantou estava sentada uma mulher. Eles não estavam juntos porquê vi que eles se comportaram como desconhecidos quando entraram no ônibus na Rodoviária de Foz.
Enquanto o homem se encaminhava ao fundo do ônibus para ir ao banheiro, andando com dificuldade pelo corredor estreito do ônibus no escuro, a mulher desceu as escadas e foi conversar com o motorista.
Como eu estava na poltrona nº 06, que é a do corredor ao lado das escadas, ouvi  bem, no meio daquele silêncio, ela explicando que o homem era deficiente e pedindo para aguardar até o homem voltar.
Não escutei resposta, mas a mulher pareceu ficar satisfeita, subiu e ficou em pé perto da escada sem voltar para sua poltrona e o ônibus continuou parado naquele lugar, o que para mim significou que o motorista tinha aceitado aquele pedido singular.

Fiquei pensando: Será que ele vai demorar no que foi fazer? Afinal, agora o ônibus estava parado esperando que ele concluísse o que fosse que tinha ido fazer e ele nem suspeitava disso.
Daqui a pouco a mulher, que continuava em pé, olhou para o corredor e deve ter visto o homem voltando, pois falou para o motorista que ele já estava retornando e a seguir ocupou o lugar dela. 
O homem nem tinha sentado quando o motorista colocou o ônibus em movimento. Ele saiu de um jeito tal que imaginei que tinha ficado um pouco irritado com a espera, afinal de contas nunca param para alguém ir ao banheiro. Menos mal que o homem não demorou, porque senão a situação ia ficar meio constrangedora.
Depois que o ônibus voltou a andar o homem não sentou imediatamente, achei que não era tanto pela dificuldade, porquê parecia estar firme. 
Estava me perguntando se ele teria aprovado a atitude dela, uma vez que todos os passageiros ficaram aguardando ele ir ao banheiro para poder continuar a viagem.  
Desconfiava que ele teria achado desnecessário que o ônibus aguardasse enquanto ia ao banheiro. 
Sem contar que as pessoas preferem não fazer essas tarefas no ônibus e, caso seja necessário ir, vão discretamente. A mulher, com a intenção de ajudar, acabou chamando a atenção para o que ele foi fazer.

Bem, achava que o fato estava concluído, no entanto, naquela pausa antes de sentar o homem disse à mulher: "Não consegui pegar água", como explicando o que ele foi fazer lá nos fundos.

A mulher, que pensava que ele tinha ido ao fundo do ônibus para ir ao banheiro, um tanto surpresa apenas disse: Água?  Ele falou: Sim, tinha que abrir a porta da geladeirinha e não deu. 
De fato, no fundo desses ônibus sempre têm uma geladeirinha cheia de copos de água para os passageiros.
Ela deve ter entendido que era por causa dele ter que segurar a muleta e ao mesmo tempo se agachar, abrir a geladeirinha e segurar o copinho de água. Gentilmente, ela perguntou: Quer que pegue para o Senhor?  Ele balançou a cabeça afirmativamente e disse: Sim, é que tenho que tomar meu remédio. A mulher levantou imediatamente e lá se foi ela pegar água, meio cambaleando no escuro enquanto o ônibus avançava pela estrada.

Foi nessa altura que comecei a achar algo cômica a situação. Olhei os passageiros em volta para ver se alguém mais estava percebendo o que estava acontecendo, mas não achei ninguém para ser meu cúmplice em conter o riso, apenas o silêncio no escuro daquele ônibus. Todos deviam estar dormindo.
Enquanto a mulher voltava pensei: Essa mulher agora esta fazendo uma boa ação a pedido dele e ao que parece sou a única testemunha disso.
Até pensei em dizer algo para ela, talvez uma palavra apenas para ela perceber que seu feito tinha reconhecimento, mas achei que não era para tanto e ai me lembrei de uma passagem na Bíblia que diz algo assim: “Que tua mão esquerda não saiba o que faz tua mão direita”, no sentido de não se vangloriar dos atos piedosos. Estava divagando sobre isso quando ouvi ela voltando.

A mulher voltou trazendo água e deu um copinho para ele, que agradeceu com um simples “obrigado”. Depois disso não lembro mais se ela falou algo, porquê o sono já estava dominando e minha imaginação brincava nos portais de um sonho. Esse sonho misturava o que tinha acabado de observar e nele a mulher aparecia com um pequeno grupo de amigas contando-lhes o que tinha acontecido no ônibus. Elas riam e ela ria junto lembrando daquela situação.
Depois disso só fui acordar ao chegarmos perto da rodoviária de Curitiba. Enquanto acordava lembrei do meu sonho e me perguntei se ela comentaria isso num círculo de amigas ou se ia esquecer o lado engraçado de ter parado o ônibus pensando que o homem ia ao banheiro e preferir não se vangloriar da boa ação de ter ido pegar água para ele.
Será que se ela contasse não seria um bom exemplo?  

Acho que o crédito pela sua atitude deve ter sido contabilizado imediatamente pelo Universo e, por outro lado, para mim o que ficou foi o sentimento calmo de ter visto uma gentileza, aquele gesto solidário para com um desconhecido, mesmo envolvendo um mal entendido e tratando-se de uma pequena ação.
Acredito que nenhuma boa ação se perde, nem que seja pequena, nem passa totalmente despercebida, mesmo que ninguém comente de imediato.

Uma boa ação, uma vez que ela existiu, manda sua energia para se juntar ao que a humanidade fez de bom.
Junto com os atos heroicos, daqueles que deram até as próprias vidas e fizeram grandes sacrifícios para o bem, junto também das ações que trouxeram progressos à humanidade, ao lado das ações de perdão e de todas as atitudes de misericórdia e pequenos sacrifícios diários das mães, e que está longe de ser pouco, somam-se todas as ações boas e até as gentilezas como essa. Um conjunto de energias boas é poderoso e deve ser muito brilhante.

Voltando àquela pequena ação, hoje penso que meu comentário aqui sobre o acontecido ela jamais poderia imaginar.
Feliz daquela que tem suas boas ações comentadas e nem sequer suspeita disso.

Quantas coisas do que fizemos alguém terá comentado, os pobres de espírito comentarão nossos erros, se lambuzarão em nossas falhas, mesmo assim elas servirão de exemplo a ser evitado, mas, por incrível que pareça, existem aqueles que vão reparar naquilo que fizermos de bom.

Faço o que acho que tem que ser feito e penso que cada um mostra quem é com suas atitudes, mas sei que as críticas são comuns e procuro ver o lado bom delas. Se não houver criticas desconfio que nada interessante foi feito.

"Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo" 
 Oscar Wilde

No meio das criticas não é raro ouvir opiniões a favor, enfim, se algo dizem é sinal de que algo estou fazendo. Pode esperar que é certo que o povo vai falar, as pessoas falam de qualquer coisa, até do copinho de água que uma mulher deu para um homem no ônibus.

Finalmente, como disse Oscar Wilde: 
"Se existe no mundo coisa mais aborrecida do que ser alguém de quem se fala é certamente ser alguém de quem não se fala".