sábado, 15 de agosto de 2015

Papa Francisco: Laudato Si

O Papa Francisco foi eleito no dia 13 de março de 2013 (13/03/13) após a renuncia do seu antecessor. 
Além de ser o primeiro Papa do continente americano ele é também o primeiro Papa Jesuíta da história da Igreja Católica.
Depois que foi eleito teve várias declarações dele que chamaram a atenção do mundo, por exemplo:
"A Igreja já não acredita em um inferno literal , onde as pessoas sofrem . Esta doutrina é incompatível com o amor infinito de Deus" 
Que bom ouvir isso de um Papa!!! e outra: "Deus não é um juiz , mas um amigo e um amante da humanidade. Deus nos procura não para condenar, mas para abraçar ." Pense bem nessa frase, à qual não vou nem comentar, só quero colocar a continuação dessa declaração que têm junto mais uma:..."Como a história de Adão e Eva , nós vemos o inferno como um artifício literário". Isso, esqueça o inferno, e também o papel de Deus como Juiz e ainda procure entender que a história de Adão e Eva é um artifício literário. 
Essas não foram as únicas declarações do Papa Francisco que chamaram minha atenção, mas convenha que acabar com o inferno e toda a enorme ameaça de danação eterna que representava como castigo pelos seus pecados é um alivio. Para que não fique dúvida sobre isso, o Papa Francisco acrescentou:"O inferno é só uma metáfora da alma exilada (ou isolada), que, como todas as almas em última análise, estão unidos no amor com Deus.“ e um detalhe, todas essas citações fazem parte de uma única declaração.
Claro que não foi por essas e muitas outras declarações que o Papa Francisco foi eleito o Homem do Ano pela revista "Time", e por sua vez não foi a única a fazer isso, na verdade o Papa Francisco ganhou reconhecimento internacional rapidamente, não apenas em função dele ser o grande líder da uma das religiões com maior quantidade de seguidores no mundo, mas também  por ser um Papa que traz esperança e alegria, defendendo sempre os mais fracos e mostrando-se humilde e amoroso.

Foi por isso que decidi ler com muita atenção a primeira encíclica dele, intitulada "Laudato Si". Sabemos que a primeira carta encíclica publicada no seu nome, em 05 de julho de 2013, foi denominada "Lumen Fidel", só que essa já tinha sido começada pelo Papa Benedicto XVI, inclusive ela trata da fé na teologia católica e obviamente veio a completar a trilogia das virtudes chamadas Teologais: Fé, Esperança e Caridade, lembrando que "Spe Salvi" (Salvos em Esperança) e "Caritas in Veritate" (Caridade na Verdade) foram encíclicas do Papa Benedito XVI.
De fato "Laudato Si" é considerada a segunda encíclica do Papa Francisco, foi apresentada em 18 de junho de 2015, e trata do planeta em que vivemos hoje.
Aqui entre nós uma encíclica é um verdadeiro livro, no caso específico trata-se de uma obra com seis capítulos e 246 parágrafos, são 184 páginas, parece com uma Tese, só de citações tem 172, ou seja, não é algo sobre o qual a gente opina rapidinho, dai que, depois de ler com cuidado os seis capítulos decidi que somente vou me referir a três deles, e fiz isso porque considerei que os outros são preponderantemente de conteúdo evangélico, como o Capítulo II, ou de cunho muito teórico, como o Capítulo IV sobre Ecologia, e no outro, o Capítulo V, realmente não encontrei a mesma inspiração que se encontram nos capítulos I, III e VI.
Assim sendo, a continuação abordarei trechos dos capítulos I, III e VI da encíclica "Laudato Si", é uma seleção de frases que sem dúvida apresentam conteúdo universal e são frases que podemos achar parecidas às de algum livro "best seller", mas, a grande diferença é quando vemos elas com a perspectiva da liderança que tem o Papa Francisco como Chefe da Igreja Católica. 

 
Antes de mostrar cada capitulo, gostaria de destacar dois temas, um deles é sobre a compaixão. Escreveu o Papa: "Um sentimento de profunda comunhão com o resto da natureza não pode ser real se nossos corações não têm ternura, compaixão e a preocupação para os nossos companheiros seres humanos"

A compaixão tem sido a guia da evolução humana, segundo a Dra Penny Spikins, da Universidade de York, a evolução humana passou pelo desenvolvimento da compaixão e da bondade antes do desenvolvimento da inteligência. De acordo com as evidências encontradas nos seus estudos a evolução humana não foi guiada pela inteligência, o que comumente se pensa, mas pela sociabilidade que nos agregou e nesses grupos houve o cuidado de uns com os outros, mesmo antes de termos desenvolvido o idioma, e tudo surgiu a partir dai, inclusive a evolução da inteligência. Spikins publicou suas conclusões no livro" How Compassion made us Human" ("Como a Compaixão nos tornou Humanos").

De acordo com Albert Einstein:  "Nossa tarefa deve ser nos libertarmos, aumentando nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes e toda a natureza e sua beleza".

O Papa Francisco, em "Laudato Si", condiciona a profunda comunhão com a natureza à compaixão, ternura e à preocupação, o cuidado amoroso, para com os outros seres humanos.
De fato vemos nas cidades muitas pessoas que mostram compaixão com os animais, mas nem sempre elas conseguem estender essa compaixão aos humanos que pensam diferente delas.
Para sermos livres devemos ampliar esse círculo de compaixão e abranger todas as criaturas viventes, como disse Einstein.
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 O segundo tema que gostaria de destacar é que o Papa Francisco ao referir-se a São Francisco de Assis, logo no paragrafo 11 da encíclica, abordou as bases do que seria uma verdadeira revolução do comportamento do homem moderno, quando escreveu:"Tal como acontece a uma pessoa quando se enamora por outra, a reação de Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os minúsculos animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas. Entrava em comunicação com toda a criação, chegando mesmo a pregar às flores «convidando-as a louvar o Senhor, como se gozassem do dom da razão».[01] A sua reação ultrapassava de longe uma mera avaliação intelectual ou um cálculo econômico, porque, para ele, qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe.

São Boaventura, seu discípulo, contava que ele, «enchendo-se da maior ternura ao considerar a origem comum de todas as coisas, dava a todas as criaturas – por mais desprezíveis que parecessem – o doce nome de irmãos e irmãs».[02] Esta convicção não pode ser desvalorizada como romantismo irracional, pois influi nas opções que determinam o nosso comportamento. 
Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos. Pelo contrário, se nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, então brotarão de modo espontâneo a sobriedade e a solicitude. 
A pobreza e a austeridade de São Francisco não eram simplesmente um ascetismo exterior, mas algo de mais radical: uma renúncia a fazer da realidade um mero objeto de uso e domínio. "
O Papa ainda disse: "Tudo está relacionado e nós seres humanos estamos unidos como irmãos e irmãs em uma peregrinação maravilhosa, entre-tecidos juntos pelo amor que Deus tem para cada uma de suas criaturas e que também nos une em profundo afeto com o irmão sol, irmã lua, irmão rio e mãe terra."
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Capítulo I
O Papa Francisco refletiu sobre as relações e a qualidade de vida humana em face da mídia de massas e do mundo digital, escrevendo no parágrafo 47: "A verdadeira sabedoria, fruto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre as pessoas, não se adquire com uma mera acumulação de dados, que, numa espécie de poluição mental, acabam por saturar e confundir. Ao mesmo tempo tendem a substituir as relações reais com os outros, com todos os desafios que implicam, por um tipo de comunicação mediada pela internet."
"Isto permite selecionar ou eliminar a nosso arbítrio as relações e, deste modo, freqüentemente gera-se um novo tipo de emoções artificiais, que têm a ver mais com dispositivos e monitores do que com as pessoas e a natureza. Os meios atuais permitem-nos comunicar e partilhar conhecimentos e afetos. Mas, às vezes, também nos impedem de tomar contacto direto com a angústia, a vibração, a alegria do outro e com a complexidade da sua experiência pessoal. Por isso, não deveria surpreender-nos o fato de, a par da oferta sufocante destes produtos, ir crescendo uma profunda e melancólica insatisfação nas relações inter pessoais ou um nocivo isolamento"

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 Na encíclica o Papa Francisco abordou os problemas da poluição, resíduos em grandes quantidades devido ao consumo de produtos descartáveis, além do desperdiço e falta ou má qualidade da água, assim como as consequências na deterioração da qualidade de vida e degradação social. O Papa salientou que não está havendo uma reação suficiente no mundo e a fraqueza dessa reação, com a continuação do consumo é um comportamento evasivo. 
Ele escreveu: "Se nos detivermos na superfície, para além de alguns sinais visíveis de poluição e degradação, parece que as coisas não estejam assim tão graves e que o planeta poderia subsistir ainda por muito tempo nas condições atuais. Este comportamento evasivo serve-nos para mantermos os nossos estilos de vida, de produção e consumo. É a forma como o ser humano se organiza para alimentar todos os vícios auto destrutivos: tenta não os ver, luta para não os reconhecer, adia as decisões importantes, age como se nada tivesse acontecido."
"Preocupa a fraqueza da reação política internacional. A submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente. Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afetados os seus projetos".
"Nalguns países, há exemplos positivos de melhoria do ambiente... Estas ações não resolvem os problemas globais, mas confirmam que o ser humano é capaz de intervir de forma positiva. Como foi criado para amar, no meio dos seus limites germinam inevitavelmente gestos de generosidade, solidariedade e desvelo."
A respeito da situação e das possíveis soluções considerou que se desenvolveram diferentes perspectivas e linhas de pensamento com posições polarizadas e entre os extremos deve-se refletir para identificar cenários futuros porque não existe apenas um caminho de solução e isso abriria espaço para chegar a respostas mais abrangentes através do diálogo. 
Sobre muitas questões concretas a Igreja não tem motivo para propor uma palavra definitiva e entende que deve escutar e promover o debate honesto entre os cientistas, respeitando a diversidade de opiniões, escreveu: "A esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas. Todavia parece notar-se sintomas dum ponto de ruptura, por causa da alta velocidade das mudanças e da degradação, que se manifestam tanto em catástrofes naturais regionais como em crises sociais ou mesmo financeiras, uma vez que os problemas do mundo não se podem analisar nem explicar de forma isolada."
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Capitulo III
De acordo com o Papa Francisco as pessoas "Tomam consciência de que o progresso da ciência e da técnica não equivale ao progresso da humanidade e da história, e vislumbram que os caminhos fundamentais para um futuro feliz são outros. Apesar disso, também não se imaginam renunciando às possibilidades que oferece a tecnologia. A humanidade mudou profundamente, e o avolumar-se de constantes novidades consagra uma fugacidade que nos arrasta à superfície numa única direção. Torna-se difícil parar para recuperarmos a profundidade da vida."

A respeito do antropocentrismo moderno o Papa escreveu:"Quando o ser humano se coloca no centro, acaba por dar prioridade absoluta aos seus interesses contingentes, e tudo o mais se torna relativo. Por isso, não deveria surpreender que, juntamente com a onipresença do paradigma tecnocrático e a adoração do poder humano sem limites, se desenvolva nos indivíduos este relativismo no qual tudo o que não serve os próprios interesses imediatos se torna irrelevante. "
O Papa escreveu também sobre a necessidade de defender o trabalho. "O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho."

"Quando as pessoas se tornam autorreferenciais e se isolam na própria consciência, aumentam a sua voracidade: quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir...Se este é o tipo de sujeito que tende a predominar numa sociedade, as normas serão respeitadas apenas na medida em que não contradigam as necessidades próprias."

"Uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, econômico e social. Verifica-se isto quando os movimentos de consumidores conseguem que se deixe de adquirir determinados produtos e assim se tornam eficazes na mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção.É um fato que, quando os hábitos da sociedade afetam os ganhos das empresas, estas ficam pressionadas a mudar a produção."
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Capitulo VI
No sexto e último capítulo da encíclica, intitulado "Educação e Espiritualidade Ecológicas", o Papa Francisco escreveu:
"A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo."
"É importante adotar um antigo ensinamento, presente em distintas tradições religiosas e também na Bíblia. Trata-se da convicção de que «quanto menos, tanto mais». Com efeito, a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. "
"É possível necessitar de pouco e viver muito, sobretudo quando se é capaz de dar espaço a outros prazeres, encontrando satisfação nos encontros fraternos, no serviço, na frutificação dos próprios carismas, na música e na arte, no contacto com a natureza, na oração."
"A natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa, ou do culto da notoriedade? Muitas pessoas experimentam um desequilíbrio profundo, que as impele a fazer as coisas a toda a velocidade para se sentirem ocupadas, numa pressa constante que, por sua vez, as leva a atropelar tudo o que têm ao seu redor"
"Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença «não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada».(03)"
"Falamos aqui duma atitude do coração, que vive tudo com serena atenção, que sabe manter-se plenamente presente diante duma pessoa sem estar a pensar no que virá depois, que se entrega a cada momento como um dom divino que se deve viver em plenitude." 
"Uma expressão desta atitude é agradecer a Deus antes e depois das refeições... Este momento da bênção da mesa, embora muito breve, recorda-nos que a nossa vida depende de Deus, fortalece o nosso sentido de gratidão pelos dons da criação, dá graças por aqueles que com o seu trabalho fornecem estes bens, e reforça a solidariedade com os mais necessitados."
"O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade duma palavra gentil, dum sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas."

"O Pai é a fonte última de tudo, fundamento amoroso e comunicativo de tudo o que existe. O Filho, que O reflete e por Quem tudo foi criado, uniu-Se a esta terra, quando foi formado no seio de Maria. O Espírito, vínculo infinito de amor, está intimamente presente no coração do universo, animando e suscitando novos caminhos. O mundo foi criado pelas três Pessoas como um único princípio divino, mas cada uma delas realiza esta obra comum segundo a própria identidade pessoal. Por isso, «quando, admirados, contemplamos o universo na sua grandeza e beleza, devemos louvar a inteira Trindade».(04)"

"São Boaventura chega a dizer que o ser humano, antes do pecado, conseguia descobrir como cada criatura «testemunha que Deus é trino». O reflexo da Trindade podia-se reconhecer na natureza, «quando esse livro não era obscuro para o homem, nem a vista do homem se tinha turvado»(05)"
"Este santo franciscano ensina-nos que toda a criatura traz em si uma estrutura propriamente trinitária, tão real que poderia ser contemplada espontaneamente, se o olhar do ser humano não estivesse limitado, obscurecido e fragilizado. Indica-nos, assim, o desafio de tentar ler a realidade em chave trinitária. 
No final da encíclica o Papa Francisco colocou duas orações, a primeira oração é a "Oração pela nossa terra", a seguir alguns versos:


  Deus Onipotente,
que estais presente em todo o universo
 e na mais pequenina das vossas criaturas,
 Vós que envolveis com a vossa ternura
 tudo o que existe,
 derramai em nós a força do vosso amor
 para cuidarmos da vida e da beleza.
 Inundai-nos de paz,
 para que vivamos como irmãos
 e irmãs sem prejudicar ninguém.

A segunda é a "Oração Cristã com a Criação" e nela se encontra:
Senhor Deus, Uno e Trino,
 comunidade estupenda de amor infinito,
 ensinai-nos a contemplar-Vos
 na beleza do universo,
 onde tudo nos fala de Vós.
 Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão
 por cada ser que criastes.
 Dai-nos a graça de nos sentirmos
 intimamente unidos
 a tudo o que existe.
 Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
 como instrumentos do vosso carinho
 por todos os seres desta terra,
 porque nem um deles sequer
 é esquecido por Vós. 

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01- Tomás de Celano, Vita prima di San Francesco, XXIX, 81: Fonti Francescane, 460. 
02- Legenda Maior, VIII, 6: Fonti Francescane, 1145.
03-Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium (24 de Novembro de 2013), 71: AAS 105 (2013), 1050.
04-João Paulo II, Catequese (2 de Agosto de 2000), 4: Insegnamenti 23/2 (2000), 112; L´Osservatore Romano (ed. portuguesa de 5/VIII/2000), 8.
05-Quaestiones disputatae de Mysterio Trinitatis, 1, 2, concl
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Frida Kahlo e Diego

Frida kahlo viveu na primeira metade do século XX,  teve uma vida  intensa no amor e na arte, é mais conhecida como pintora, mas ao ler o que escreveu no seu diário e nas cartas para Diego Rivera, fica mais fácil perceber a intensidade da sua personalidade.

Os fatos que marcaram  sua vida (veja link)  foram enormes e poucos: a poliomielite aos seis anos, o acidente de ônibus contra o bonde, onde sofreu fraturas múltiplas, os dois casamentos com o mesmo homem e a amputação da perna, um ano antes da sua morte.

Esses fatos foram assimilados pela sua personalidade, criando um estilo próprio na pintura, considerada surrealista, assim como um estilo único na sua forma de vestir. Além de manifestar na pintura e na vestimenta sua maneira de ser, também deixou escrito no seu diário e suas cartas a  intensidade das suas emoções e forte personalidade.

Nasceu em 6 de julho de 1907 (Coyoacán, México) na casa conhecida como "La Casa Azul", que era a casa dos seus pais.
Aos seis anos (1913) contraiu poliomielite. A doença deixou uma lesão no seu pé direito e também a perna era mais franzina que a outra, o que a obrigou a usar sapato especial para compensar a diferença de altura.

Aos 18 anos (17/09/1925), voltando da escola num ônibus urbano, um bonde chocou-se lateralmente contra eles e uma peça de metal perfurou-lhe as costas indo atravessar a pélvis. Na batida fraturou a coluna em três lugares, quebrou duas costelas, a clavícula e teve três fraturas no osso púbico, além de onze fraturas na perna direita e deslocamento do pé direito e ombro esquerdo. 

Como consequência desse acidente, que atingiu os ovários, não pode ter filhos e foi obrigada a usar coletes ortopédicos, além de ter sido submetida a 32 operações cirúrgicas durante sua vida.

Foi durante a longa convalescença desse acidente que ela começou a pintar, graças a um cavalete que sua mãe mandou confeccionar especialmente para ela.
Encontrou na pintura uma razão para viver, como diria para sua mãe. 


Suas telas foram expostas em várias galerias, entre elas: Julien Levy (Nova York), Renón et Colle (Paris) e Galeria de Arte Contemporânea (México) .

 " A Coluna Partida" de Frida Kahlo

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."

Aos 21 anos (1928) conheceu Diego Rivera, famoso pintor muralista mexicano, e casaram no ano seguinte (21/agosto/1929). Ele tinha 42 anos, media 1.86m, pesava 135 kg e ela aos 22 anos, com 1.60m, tinha apenas 44,5 Kg. Faziam um casal que alguns chamavam: o elefante e a pomba.

Pode ser que fisicamente chame a atenção certo contraste, mas vamos convir que uma foto bem tomada mostrava um casal pra lá de interessante, veja:
 

Era uma atração intensa, dois artistas numa paixão. 
Frida escreveu no seu diário: ''Diego está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no metal, na doença, na imaginação.''

O casamento entre eles não era o tradicional da época, Frida era bissexual e ele aceitava as relações dela com mulheres, mas não com homens, só que Diego era mulherengo. Frida foi a terceira esposa dele e a separação ocorreu, supostamente, devido a Frida ter flagrado ele com a irmã caçula dela, Cristina. 
De fato Cristina e Diego tiveram um caso e inclusive filhos.

Frida Kahlo e Diego separaram-se em 1939 e no ano seguinte voltaram a casar (1940). 
Diego Rivera conta na sua biografia que, nesse segundo casamento, Frida estabeleceu  condições para voltar: "Ela iria se sustentar com os rendimentos de seu próprio trabalho; eu iria pagar metade das despesas da casa − e nada mais; e não teríamos relações sexuais. Para explicar essa última condição, ela disse que com todas as imagens de minhas outras mulheres surgindo em sua mente, ela não conseguiria fazer amor comigo, pois uma barreira psicológica se levantaria assim que eu começasse a abordá-la. Estava tão feliz em ter Frida de volta que aceitei tudo. (Veja link) 


Diz a lenda que, no segundo casamento, Ela construiu uma casa ao lado da dele e fez uma ponte, cada um morava na sua casa e ao mesmo tempo juntos, encontrando-se de madrugada. 
Isso faz parte da lenda em torno deles, na verdade as duas casas existiram e também a ponte que as ligava, só que a construção ocorreu por ocasião do asilo político que foi dado a Leon Trotsky, pelo governo mexicano em 1937, e nessa ocasião ele ficou hospedado na "casa Azul" contando com o apoio de Diego Rivera que mandou construir a ponte entre as duas casas como parte da segurança, porque Leon Trotsky estava ameaçado de morte.
Frida e Diego também tinham um forte envolvimento político, fizeram parte do Partido Comunista Méxicano, embora Diego Rivera foi expulso do partido, mas isso faz parte de outra história, e se quiser mais informações pode acessar este link.

As três maiores paixões da vida de Frida Kahlo foram: Diego Rivera, a pintura e seu envolvimento político pertencendo ao Partido Comunista Mexicano. 

As questões políticas também foram parte do que tinham em comum, como era o mundo da arte e a pintura em particular, também a paixão pela política gerou um que outro desentendimento, como por exemplo quando Trotsky foi assassinado, mas nada se comparava às emoções de amor e ciúme trocados entre eles por conta das acusações de infidelidade.
Frida escreveu para ele: "Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você. Você sem dúvida foi o pior deles." 

O casamento foi tumultuado. Amor sim, muito, intenso, mas também ciúmes, por sinal justificados e de ambos lados segundo consta, já que ela foi amante de Leon Trotsky e certamente não foi o único (Veja Link) e ele nem se diga. A relação era complexa e, segundo consta nesse link, ela seduzia as amantes dele. Apesar de tudo continuaram juntos por 25 anos até que a morte os separou.

Ficaram casados até a saúde dela ir para a cena final.
Aos 46 anos (1953), em agosto, teve gangrena e foi necessário amputar a perna abaixo do joelho.
Depois disso tentou algumas vezes pôr fim à sua vida. 
Essa foi uma fase em que Diego a sentiu sofrendo depressão, segundo consta na sua autobiografia. 

Frida faleceu quase um ano depois, em 13 de julho,1954, uma semana depois de ter feito 47 anos. 
Na noite anterior ao seu falecimento deu um presente para Diego, como lembrança dos vinte e cinco anos de casamento, só que faltava quase um mês para isso acontecer, pois casaram em 21 de agosto. Ao dar o presente dizem que falou para ele: "É porque sinto que vou te deixar dentro de pouco tempo"
Isso levanta a suspeita de suicídio, que várias vezes tentou anteriormente sem sucesso, usando remédios. Foi encontrada na manhã seguinte, a causa foi embolia pulmonar, nunca foi feita autopsia e seu corpo foi cremado conforme seu desejo.
A última frase do seu diário:
"Espero alegre a partida e espero não voltar jamais " ("Espero alegre la salida y espero no volver jamás").

Sua biografia com detalhes e sua obra completa pode ser vista neste link. Na sua obra destacam-se os autorretratos, 55 pinturas, quase um terço do total.

Diego casou de novo (29/07/55), um ano depois da morte de Frida, com Emma Hurtado, que tinha sido sua agente nos últimos nove anos e que o acompanhou nos seus últimos dias, lutando contra o câncer nos testículos, foram até Rússia fazer tratamento com cobalto, mas ele veio falecer em 24/11/57. Três anos e meio depois de Frida.

Para finalizar, essa foto numa cena caseira na cozinha, provavelmente no período em que moraram nos Estados Unidos, onde moraram vários anos enquanto Diego foi pintar grandes murais. 
A imagem captou, longe dos holofotes, uma ternura intensa e muito mais, você certamente vai perceber  esse sentimento profundo, do amor maduro que transforma a existência humana.

Isso me lembra Shakespeare:  "Nunca é sereno o curso do verdadeiro amor."

Ainda, na visão artística de Frida, como seriam eles dois? Frida nesta pintura "Diego  y Frida, 1929-1944" responde, aliás o título da pintura é o período que tinha transcorrido de casamento entre eles até a data da pintura, que é a seguinte:
 Nessa pintura, eles são uma única pessoa, com as metades complementando-se, em galhos sem folhas que avançam até a lua e o sol, simbolizando os aspectos feminino e masculino e embaixo a simbologia da união amorosa.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Homens e Banheiros

Imagine a cena: Um homem entra num banheiro público masculino, daqueles mais arrumados, sabe como é banheiro público masculino arrumado, não? hummm, vou contar um segredo para você: existem banheiros masculinos arrumados, aliás, é algo que sempre chamou minha atenção e tenho umas fotos desse tipo de banheiros públicos, quer ver?


Esses ai acima são bem modernos, se você reparar vai ver que não tem nada para dar descarga, usam sensores e o homem não toca em nada, ou seja, nada do banheiro. 
Antes de continuar devo dizer que este é um assunto que toca nosso lado humano, nossas necessidades fisiológicas básicas fundamentais, geralmente relegadas a um plano talvez prosaico, um assunto desprovido de nobreza,  apenas uma coisa prática que deve ser feita sem maiores comentários.
Eu achava que não havia nenhuma revolução em curso para modificar isso, mas será que esses banheiros em breve serão peças de museu, vestígios arcaicos de um costume e um comportamento que os homens tiveram um dia ?
Deixa mostrar outras fotos da minha coleção, sim, essas e as outras que vou colocar aqui, as tirei eu mesmo, sem saber que um dia seriam publicáveis. Depois explico a razão. Veja outros banheiros públicos arrumados, porém mais convencionais:





Então, agora que já temos o contexto vamos relativizar isso, digamos o óbvio: a maioria dos banheiros masculinos não são tão arrumados quanto esses, existem os banheiros de beira de estrada, aqueles outros de bar de quinta categoria, enfim, banheiros aos quais os homens devem se submeter para satisfazer as necessidades prementes sempre que é necessário. 
Tenho certeza que no parágrafo anterior estranhou uma frase: "devem se submeter". Já que estou explicando tudo, permita-me comentar essa frase: todo homem gostaria de usar um banheiro higiênico, como os que aparecem nas fotos, mas, ele vai usar o que estiver disponível, e mais, vai usar sem reclamar.
Vai ficar de bico calado, sem importar as condições que encontrou, não porque a higiene não tenha importância, ou porque não tenha percebido, e sim porque no universo masculino o importante não foi que havia  um banheiro, muito menos as condições desse banheiro, e sim que a necessidade fisiológica foi satisfeita.
Um dia, algum estudo científico vai comprovar que a capacidade de aguentar a bexiga cheia é diferente nos homens e nas mulheres. Imagino até a razão. Historicamente, os homens sempre tiveram mais facilidade de encontrar um lugar para urinar.
Na falta de banheiro, em condições rurais ou fora de uma cidade, os homens sempre resolvem rápido a situação. Por outro lado, a mulher sempre teve dificuldades, dai que -por uma questão de evolução natural- ela teria desenvolvido a capacidade de aguentar mais tempo até encontrar um lugar que tivesse as condições mínimas para fazer xixi. Essa é minha teoria.
Independentemente disso, e apesar da maior facilidade dos homens de encontrar um lugar para urinar ou de não reclamar do banheiro que aparecer, a impressão é que existem muito mais banheiros masculinos do que femininos. Isso parece óbvio ao ver a fila dos banheiros femininos em lugares onde tem muitas pessoas, acontece em eventos grandes, como por exemplo  no carnaval.
É inacreditável que haja menos banheiros femininos, até acredito que são quantidades semelhantes, por isso acho que não é que existam menos, o que acontece é que as mulheres tomam mais cuidados higiênicos e acabam demorando mais, ai a fila é interminável.
Enquanto isso, os homens entram e concluem rápido, ai a fila anda bem mais rápido. Sem contar que os homens que tiverem uma necessidade insuportável vão dar um jeito antes de passarem mal, exagerei, nunca ouvi falar de um homem que passou mal por não encontrar banheiro.

A questão é a seguinte: os homens estão começando a fazer xixi sentados no vaso.
Para mim isso era novidade até há muito pouco tempo. Pelo menos no Brasil isso vai parecer brincadeira para a maioria. Não é. 
O fato que me chamou a atenção era a noticia sobre a sentença de um Juiz na Alemanha. Você deve ter lido, era a respeito de um inquilino que foi na justiça porque o dono do apartamento queria lhe cobrar o equivalente a uns seis mil reais (R$ 6.000) por ter danificado o piso de mármore do banheiro, devido aos respingos de urina, e a sentença dizia o seguinte: O juiz Hank alertou o inquilino sobre a mudança de hábitos, alertando que urinar de pé vai causar "desavenças com pessoas vivendo sob o mesmo teto, especialmente do sexo feminino". Mas o magistrado se recusou a aceitar o argumento de que o homem poderia ser responsabilizado por danos ao piso.O ato de urinar em pé ainda é disseminado na Alemanha, afirmou o juiz.(veja link). 
Convenhamos que o inquilino não devia dar muita atenção à limpeza do banheiro. O fato que chama a atenção é essa frase reveladora na sentença do Juiz Hank: "O ato de urinar em pé ainda é disseminado na Alemanha".
Lascou.
Como assim!!??? 
Uma mulher não vai entender porque sentar ou urinar em pé faz um homem refletir sobre os destinos do próprio gênero. É inegável que é um assunto que não passa sem uma reação masculina.
Parte dessa reação, sobre os caminhos diferentes que alguns do gênero masculino estão trilhando, começa por reconhecer que existe uma divisão no gênero, a ala dissidente, a que gosta e prefere o próprio gênero, está aumentando aos poucos e eles são pessoas inteligentes, aceitam mudanças, e são muito sensíveis. Poderíamos acrescentar muitas outras qualidades, mas, com apenas essas entendo que aceitem sentar no vaso. 
Se alguns homens questionam as práticas em uso e estão dispostos a testar novas formas de executar tarefas tradicionais, e por outro lado, estão cansados de ouvir críticas sobre "deixar a tampa do vaso" fechada, será que isso explicaria essa mudança de comportamento?
Os homens que decidem sentar para fazer xixi, provavelmente estão ouvindo reclamações femininas sobre a tampa do vaso ou sobre a limpeza. 
Muitas vezes o que resolveria a questão seria deixar o assento do vaso sempre abaixado para que a mulher não tenha que tocar nele e sem respingos de urina em lugar nenhum.
Sendo assim, nem sempre o problema é que a tampa do vaso esteja abaixada. 
Tudo mundo sabe que tampa é uma coisa, assento do vaso é outra, por eles serem independentes mexer num não significa que vai mexer no outro. Para o caso do homem que urina em pé isso não interessa muito porque de qualquer maneira costuma deixar ambos para cima.
Homens que sentem no vaso ainda podem deixar a tampa aberta e respingar a frente dos vasos atuais, que não estão preparados para um esguicho frontal.
Algumas mulheres podem achar que se o assento do vaso ficar abaixado e sem respingos de urina, depois de um homem utilizar o banheiro, então tudo bem, problema resolvido.
Só que a questão, que era e continua sendo uma questão higiênica para evitar os germes na hora da descarga, obviamente não esta resolvida, a menos que se feche a tampa.
A questão higiênica ninguém discute, a tampa deveria ficar fechada. Tudo mundo aceita, nem tudo mundo faz, não é só homem, mas ninguém é contra. Homem sentando para fazer xixi também não é garantia de que a tampa será fechada nem que ficará sem respingos de urina.
Sendo assim, uma vez que o homem sentar no vaso para urinar não tem nada a ver com o comportamento de fechar a tampa e não garante a limpeza, o que vai mudar? O que sim pode mudar é que o assento vai estar, provavelmente, abaixado.
Agora, por que os homens sentariam ao urinar em vez de fazer em pé?
Será que é porque não aguentam mais ouvir críticas sobre a tampa fechada? Talvez, mas é um equívoco porque mesmo sentando eles podem continuar deixando a tampa aberta.
É mais fácil sentar? Para tudo mundo é. Mas será que não é melhor sentar em outro lugar?
Os homens que não sentam para urinar não entendem a razão disso! Será que quer sentar para ver se faz outras coisas? Nesse caso não é sentar para urinar. Talvez é obeso. Alguma razão de saúde? Os médicos dizem que, em relação à próstata, as duas posições são equivalentes (link).
Não sei explicar. Por que abaixar as calças e sentar se pode apenas abrir o zíper? 
Aliás, existe uma boa razão: quando o cara é muito ruim de mira. Nesse caso ele vai sujar tudo, então é melhor sentar. Estamos falando da casa dele, se for muito ruim e não conseguir acertar o vaso, é melhor sentar. Fazendo assim vai diminuir o trabalho da limpeza, em casa, e talvez a encarregada da limpeza pare de reclamar.
Em banheiros públicos existem mictórios, é outro contexto.

Pode ser que prefira sentar para chamar a atenção. Vamos convir que um homem másculo, durão, daqueles que falam grosso e com palavrão, se ele conta para tudo mundo que senta no vaso para fazer xixi...é um caso interessante.
Qualquer psicanalista teria interesse nele. Pagando a consulta, claro, não é para tanto.
Tirando esses casos isolados, ficamos com uma minoria que estaria promovendo uma nova abordagem.
Estava escrevendo isto e pensei: como é que vou opinar sobre urinar sentado se nunca fiz? Ai fui lá e fiz. Sabe de uma coisa, não é ruim, é um momento daqueles que você não pensa em nada, dai repara no que esta fazendo e fica em pé, levanta o assento do vaso e dá descarga. Sim, é que levantar o assento do vaso é um costume! Não vou dizer que abaixei a tampa, sabe que tem um negocio de ver como é a cor e como é que vai embora?
Toda esta questão faz algum sentido dentro de casa.
Agora, não vou falar nada de um homem que vai querer sentar no banheiro público e deixar de usar os mictórios. 
Por que razão faria isso? Se você pensa em sentar no vaso, numa residência, toda a discussão é possível, mas, se passamos a falar de banheiros públicos masculinos, geralmente com mictórios, parecidos com os das fotos acima, usar vasos -que existem nos banheiros públicos para outra finalidade- não faz sentido desde o ponto de vista higiênico ou prático. Resta apenas o gosto ou preferência individual e isso não se discute.
Aliás, na minha pesquisa descobri uns mictórios com jogos. Eles tem um monitor na frente e a brincadeira é feita com o jato de urina. Alguns desses games inventaram um cone para que as mulheres também pudessem jogar. Sério! (veja link) Também tem outros modelos e tudo isso faz parte do "Urinol Interactivo" (veja link). A seguir umas fotos que encontrei na internet sobre esses mictórios masculinos em banheiros públicos, veja:



Vai reparar que, além do monitor, esses ai não tem divisões. A falta de divisões seria um pouco inconveniente em termos gerais, mas elas nem sempre estão presentes, porém isso é coisa de bar, se não me engano fica em Londres, desconheço até que ponto é interativo. 
Se a coisa toda já é bizarra, não vamos querer o detalhe que é normal.

Finalizando, é um assunto que dificilmente pode se levar a sério, ainda que em alguns lugares estejam em discussão leis querendo tornar obrigatório que os homens sentem ao urinar.  







sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Triptofano e Serotonina

Imagine uma substância real, que não fosse uma droga e que deixa-se você feliz, bem humorada, e ao tomar ela o estresse e a ansiedade virassem nada, sumindo aos poucos e deixando você tranquila.
O único requisito para que ela funciona-se seria que você não estivesse em guerra, odiando ou lutando contra alguém.
Você acredita que exista uma substância, que não seja uma droga, que possa afetar nosso comportamento?
Gosta de chocolate? Se você gosta de chocolate fica mais fácil acreditar numa substância que possa mudar o comportamento.
Gosta de vinho? Se você aprecia um bom vinho, já deve ter desconfiado que  não é o álcool que dá essa sensação tranquila de relax.

O vinho e o chocolate tem muitos seguidores, talvez você seja um deles, mas, porque tanta gente gosta deles ? 

Talvez o segredo cativante do vinho não esteja principalmente no álcool, se fosse só pelo álcool as outras bebidas alcoólicas seriam igualmente cativantes, quem sabe tem a ver com o atrativo e sempre tentador chocolate ?

Você sabia que  o vinho e o chocolate possuem uma substancia em comum que tem uma ligação bem intima com mudanças comportamentais? Estamos falando do Triptofano, presente nessa dupla tão especial.

Lembremos que o Triptofano é um aminoácido essencial, daqueles que devemos obter dos alimentos, que é fundamental para que o Sistema Nervoso Central (SNC) produza Serotonina.

A Serotonina, 5-Hidroxitriptamina ou 5-HT, é um neurotransmissor que se acredita ter um papel importante na manifestação do comportamento "normal" das pessoas.
Os neurotransmissores são poucos, mas entre eles a Serotonina sempre me chamou a atenção pela sua relação complexa com os estados de humor.
Na verdade não apenas por isso, também por alguns dados curiosos, por exemplo, sabia que após o orgasmo (ou ejaculação) aumenta a concentração de Serotonina no cérebro e isso provoca uma sensação de prazer ? (Veja Link) e mais: Sabia que o Ecstasy (MDMA) e também o LSD atuam especificamente nos receptores de Serotonina? 

Acho muita coincidência que o prazer sexual, o vinho e o chocolate tenham todos algo a ver com os níveis de Serotonina, sem contar o Ecstasy e o LSD.
Afinal, como atua a Serotonina?  

Não é fácil entender como atua a Serotonina, basicamente ela é um neurotransmissor, atua ao nível de sinapse entre os neurônios, como se fosse uma ponte química que permite que o estímulo seja transmitido entre neurônios, mas afeta diversas funções no organismo.
Uma das funções importantes da Serotonina esta relacionada com a motilidade do intestino, com a realização dos movimentos peristálticos, por isso que a maior quantidade da Serotonina (90%) é sintetizada numa parte do trato intestinal, nas células entero cromafim, de onde é armazenada nas plaquetas (sangue).
Obviamente, não é a Serotonina que fica no intestino e sim a que é sintetizada no cérebro a que está envolvida no comportamento.
Você pode estar se perguntando: por que a Serotonina que é sintetizada no intestino não pode circular pelo sangue e ir atuar no cérebro? Boa pergunta, vamos ver isso daqui a pouco quando falarmos da Serotonina que existe nas plantas.
Tem remédios que afetam a Serotonina no cérebro, são os "Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina" (ISRS ou SSRI), uma classe de remédios que atuam aumentando a concentração de Serotonina.
Esses ISRS são receitados pelos médicos para o tratamento de transtornos de personalidade, ansiedade e síndromes depressivas (Veja mais neste Link).

Ao saber que certos fármacos, que conseguem aumentar a concentração de Serotonina no cérebro, são utilizados por médicos para tratar pacientes que sofrem ansiedade, depressão, enxaqueca ou esquizofrenia, nós temos uma boa ideia do efeito da Serotonina.
Dai que ao perceber que no tratamento para a depressão e outros transtornos do humor são receitados remédios ISRS (SSRI), que vão atuar mantendo bons níveis de Serotonina, logo pensamos: Como é que posso fazer para melhorar meu nível dessa substância? No final de contas, onde encontro ela? 
Ela existe em grande concentração nas plantas(veja Link), mas ela não consegue atravessar uma barreira que existe no cérebro, a barreira hematoencefálica (veja link), e com isso toda a Serotonina que seja consumida vinda dos vegetais, a fito-serotonina, ou de outras fontes alimentares, só vai ter a função que a Serotonina exerce no intestino, atuando na motilidade intestinal e não no aspecto comportamental comandado pelo cérebro. 
Sem contar a mudança comportamental devida a ter o intestino mais solto, não adianta comer muitas nozes, chicória, ameixas, quiwi, banana ou tomate, vegetais que contêm dez vezes mais Serotonina que os demais, pois essa Serotonina não vai conseguir atravessar a barreira hematoencefálica e entrar no cérebro, vai ter apenas o efeito no trato gastro intestinal.

Infelizmente não podemos ingerir Serotonina e conseguir que ela tenha efeito no cérebro, ela pode ser ingerida, mas vai ter efeito só no intestino e isso não vai favorecer muito nossa felicidade. 
Já que não podemos colocar Serotonina diretamente no cérebro, poderíamos talvez aumentar sua produção e ao pensar nisso a substância mais óbvia é o Triptofano, que é a base para que seja sintetizada Serotonina no cérebro.

A boa noticia é que o Triptofano sim consegue passar pela barreira hematoencefálica e ele pode atuar efetivamente como um precursor fundamental para que seja sintetizada a Serotonina, nesse caso dentro do cérebro. 

Resumidamente: O  caminho, para chegar ao bem estar que a Serotonina oferece, não é direto, se quisermos aumentar ela no cérebro só resta usar o Triptofano para favorecer sua síntese, a fabricação dela, no cérebro. 
Sem ele não temos como influenciar no aumento da Serotonina no cérebro, pois caso a ingiramos diretamente podemos até aumentar ela no intestino, mas dai ela não consegue atravessar a Barreira Hematoencefálica e não é atingido o objetivo principal.

Bom, agora sim queremos saber como é que conseguimos o tal do Triptofano.
Pois bem, é um aminoácido, um dos vinte que fazem parte do código genético, ele é considerado essencial, isso significa que o corpo humano não sintetiza ele, não fabrica, e devemos obter dos alimentos.
Conseguir não é difícil, entre os alimentos que possuem mais Triptofano estão: carnes, peixes e aves, ovos, leite, cereais integrais, aveia, abóbora, amaranto, grão de bico, gergelim, tâmaras, sementes de girassol e de abóbora, banana, amendoim, chocolate e vinho.
Então, é só comer isso e pronto? Mais ou menos, acontece que a passagem não é tão simples, porque não é apenas o Triptofano que está nesses alimentos, por sinal bastante ricos em outros dos aminoácidos essenciais, e aí ele vai entrar na fila como todo mundo, na concorrência normal para atravessar a Barreira Hematoencefálica.
Isso é tudo que podemos fazer? Nutricionalmente acredito que ao tentar fornecer Triptofano vamos estar satisfazendo os demais elementos necessários, por esse lado, dentro de uma alimentação balanceada, não imagino mais nada a fazer.
O que sim poderia ser feito seria tentar administrar psicologicamente o que nos irrita mais no dia a dia. 
Isso para não gastar Serotonina à toa, porque vimos como é complicado de ser sintetizada pelo nosso cérebro e é melhor usar para o prazer ao invés do que para equilibrar as irritações e o estresse com o trânsito, com o que disse ou fez a anta da(o) colega do trabalho ou em como esta indo a situação econômica do país. Por sinal algumas das coisas que eu ando, ultimamente, tentando controlar.
Então, se ainda não é fã de sementes de abóbora, tâmaras, Homus (Grão de bico com tahine), experimente, e acompanhe com amendoim sua bebida favorita, sem nenhuma culpa ao desfrutar do chocolate ou, eventualmente, ao apreciar um cálice de vinho, porque conseguir Triptofano é um verdadeiro "Trip to fun".