terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um lugar chamado "Omelas"

Refletir é bom, de vez em quando, dar uma paradinha na rotina e observar a vida.
Hoje deixei o carro na oficina e vai ter que ficar lá uns dias para consertar um amassado que fiz dando ré, num estacionamento que uso cinco dias na semana, bati num poste que sempre esteve lá. Pura distração.
No porta malas ficou marcado o espaço do poste, enfim, isso já faz mais de um mês e só hoje consegui arrumar um tempo para ficar sem o carro.
A inércia é uma força que tende a manter o mesmo movimento, para ficar como esta, e tem algo muito parecido com ela nas rotinas do dia-a-dia. Por semelhança também a chamarei de inércia.

É necessário refletir sobre o preço que pagamos para tudo continuar como está. Caso o preço seja inaceitável é melhor orar e pedir forças para conseguir quebrar a inércia.
Omelas tem a ver com isso.

Depois de deixar o carro na oficina fui andando a pé e olhando as coisas.
Andando a pé e sem pressa você vê coisas que parece que são invisíveis quando você passa na frente delas dirigindo um carro.
Andei até o centro, ao correio, onde tenho uma caixa postal. No meu caso, uma caixa postal é um costume que parece não fazer muito sentido, talvez seja uma questão de inércia.

Passei na frente de duas escolas de idiomas, entrei na primeira por impulso, curioso para saber os cursos oferecidos. O curso de italiano chamou minha atenção, dai na segunda escola entrei para comparar com a primeira.
Se você dá um passo numa direção, a inércia faz você dar outro passo, se você não toma cuidado -de repente- esta andando num caminho que você não tinha imaginado.
Sim, então gostei e acabei fazendo a matrícula no curso de italiano nessa segunda escola, porque os preços eram melhores, o sistema parece bom e recebi uma aula demonstrativa que gostei. 
Além disso meus conhecimentos de italiano tem como base um curso de extensão universitária que fiz há décadas, completamente insuficiente para qualquer coisa. 
Por outro lado, sempre gostei do italiano. Numas férias recentes estive num lugar que quase todas as pousadas eram de italianos, na mesa de jantar falava-se italiano, nos passeios também, ai senti a necessidade de melhorar, que melhorar nada, de aprender esse idioma pelo menos num nível razoável.
Isso sem contar que um dos meus avôs era descendente de italianos e que sempre quis ir conhecer Veneza.

A mente sempre justifica, vai apresentar as razões mais plausíveis e depois outras tiradas de sei lá qual baul da memória para mostrar que algo que você já decidiu faz todo o sentido do mundo.


Quando entrei no correio fui abrir a caixa postal, vazia, deve ser porque estou recebendo muita correspondência em casa (rsrs). 
Uma vez que tinha tempo disponível fui falar com a atendente para ver a questão do número da caixa postal.
Explico, esse número, durante anos, foi 858, escolhido entre muitos disponíveis porque é igual aos três primeiros números do CEP (zip code) da cidade.
Pois bem, todo ano renovo o contrato e, da última vez, fui surpreendido porque tinham mudado meu número! Sem me consultar. Pensem num sujeito indignado, era eu. 
O gerente dos correios explicou que tinham reduzido a quantidade de caixas postais para 500, obviamente, não foi possível manter meu número, mas, iriam colocar ambos números, caso renova-se, e não haveria problema.
Tudo bem, naquela época renovei por mais dois anos, que era o máximo. Esse tempo seria suficiente para ir avisando o novo número a quem envia correspondência para mim, que são sempre contas.

Então, já tem dias que quero saber quanto tempo falta, porque tenho que avisar do novo número a quem manda correspondência. Mas, sempre ando correndo e nunca paro para perguntar.

Hoje, a funcionária do correio acessou o sistema e me disse: Mas você conseguiu abrir essa caixa? 
Eu estranhei e pensei logo, o que será que vão me aprontar agora...falei: Porque?  
Ela disse: Porque era para estar trancada, venceu em Agosto (2011).
Isso é impossível, falei para ela, renovei recentemente por dois anos !  
Ela ficou na dúvida e verificou o número anterior (858) e o "novo" que eles me deram. Ai falou: venceu em Agosto sim. Lógico que isso é impossível. Para confirmar ela foi e pegou os papeis do contrato que eu tinha assinado.
Pois é, incrível como o tempo passa ! Parece que foi o ano passado e já foram mais de dois anos !
Bem, renovei por mais dois anos.
Eu também me pregunto agora: para que ? Em vez de avisar do novo número da caixa postal, poderia mudar o endereço completo para receber na minha casa e não ter mais a caixa. 

A inércia é mais forte que a razão. "Seguir como está" é uma força ! Para mudar deve exercer outra força maior em sentido contrário. O pensamento rápido não tem força suficiente para vencer a inércia. 
Tomar uma determinação ou uma atitude sim, isso sim pode vencer a inércia.
O certo para vencer a inércia é criar um hábito, isso exige disciplina até virar um hábito. 
Um hábito é, obviamente, uma questão de inércia.
O fogo pode ser utilizado para controlar o fogo.

Querem saber onde fica "Omelas"?
É um lugar que fica no lado contrário da utopia.
No entanto, é um lugar lindo, apenas pessoas cultas e inteligentes moram lá, desfrutando de muita prosperidade, beleza e deleites.
Apesar disso, é um lugar onde moram os que foram vencidos pela inércia.
Alguns, poucos, por uma questão de princípio saem de lá. Eles não concordam com o preço que a cidade paga por toda a felicidade e preferem não desfrutar desse paraíso. 
Os que deixam Omelas partem para a escuridão, sem promessas, deixam a felicidade certa pelo incerto, com o esforço enorme, gigantesco, de quebrar a inércia da felicidade que poderiam desfrutar se concordassem em pagar o preço.
Quem esta morando lá paga um preço. Tudo tem um preço, não tem ?
Não é um preço material, quer saber qual o preço ? veja o link acima, e vai saber.


Obs.
Clique no link, vai lá dar uma olhada, para ir lá vai ter que vencer uma certa inércia, garanto que é muito interessante.
"The Ones Who Walk Away from Omelas"é um conto de Ursula K. Le Guin.
 

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