sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um Olhar Entre Desconhecidos.


Ser vista.
Ser vista equivale a um elogio para uma mulher.
O que é ser vista ? Quando o olhar de um desconhecido admira uma mulher, com educação e respeito, de tal maneira que ao ser flagrado desvia e discretamente segue uma cena qualquer.
Existe sim.
Não ?
Tenho absoluta certeza que sim. 
Em extinção ? 
Ah, então você o conhece.
Concordo que em alguns lugares e faixas etárias seja uma verdadeira raridade.
Será que estamos falando do mesmo olhar?

Ele é assim: Ocorre entre dois desconhecidos, num lugar qualquer, inesperadamente, a qualquer momento.


"...um cavalheiro, no mesmo instante se preparando para descê-los, recuou polidamente e parou para lhes ceder a vez. Subiram, passaram por ele e, ao passarem, o rosto de Anne atraiu-lhe o olhar e ele a fitou com sincera admiração" Persuasão (livro de Jane Austen) (1818)
 
Ser vista é um ato no território dos mínimos. Tudo é mínimo. 
A cumplicidade beira a inexistência, ela sabe que foi vista, ele sabe que foi flagrado em pleno ato de admiração, mas, ambos continuam como se nada tivesse acontecido.
E é verdade, nada aconteceu, foi apenas um olhar.
Apenas uma intenção mínima que é quase um sem-querer, mas, ele teve um olhar inequívoco de admiração, durante frações de segundo o tempo abriu outra contagem, o olhar esquadrinhou parâmetros invisíveis e com a velocidade de fótons refletiu mais do que imagens. 

As palavras para falar de um olhar são como ele, intangíveis, esse é um paradoxo. 
Como qualificar com letras o que são qualidades invisíveis ?

Tudo bem, sendo objetivo, quais parâmetros invisíveis ? 
Aqueles relativos à beleza.

Sim, a beleza de uma mulher é um atributo relacionado com o aspecto físico, que já foi pesquisado e encontraram uma relação com a simetria, mas, a forma física não define a beleza. 

É algo subjetivo e cada povo responde em diferentes épocas com belezas que não são uma unanimidade para todas as épocas, porque são o resultado de variáveis sociais, biológicas, históricas e culturais. 
(Veja o Link sobre Beleza).

A beleza é um conceito amplamente abordado pela filosofia, desde os Pré-Socráticos até hoje. 
Pitágoras e seus seguidores entendiam que havia uma forte relação entre a matemática e a beleza, chegando à Proporção Áurea (1/1.618)(Veja Link) que foi empregada na arquitetura grega e continua a ser utilizada no design moderno dos mais variados produtos, assim como também ela existe naturalmente.

Como é que ela existe naturalmente ? Estranho não é ? Pois é, veja este Link.

Olhar, ver, enxergar e contemplar a beleza.
Contemplar a beleza não é observar, é olhar sem esforço e sem procurar enxergar algo, sem analizar.
Ligar a visão com a sensação de satisfação do que é visto, estabelecer uma ponte de admiração.
Só que essa ponte, no caso desse olhar que estamos falando, não é uma ponte com objetivos de abordagem, como existem outros olhares, é uma ligação contemplativa da beleza sem a intenção do diálogo e de mais nada porque, nesse momento, o pensamento nem sequer esta funcionando com palavras.

Você sabe que ao seu redor existe um espaço que é seu. 
Algo assim como o espaço aéreo de um país. Pois bem, aqui entre nós, você sabe que existem olhares que invadem seu espaço. 
A sensação de invasão é a mesma que se um desconhecido fosse entrar sem pedir permissão na sua casa.
Aquele olhar, aquele do qual estamos falando, ele respeita a sua privacidade.
Admira sem invadir.
É um olhar furtivo, qualidade essencial para não incomodar, ele não segue, jamais encara.

Uma mulher deve saber que existem muitos tipos diferentes de olhar.
São como cores. Um amarelo é completamente diferente de um vermelho.
Um branco, nada a ver com um preto.
Eles são encorpados de sentimentos ou carregados de emoções.

Outros Olhares entre Desconhecidos
Entre desconhecidos existe um olhar que é o de reconhecimento, ele também procura não invadir, só que ele avalia e tenta captar quem o outro é.
Esta ligado com a intuição mas tem um pé na porta da razão.
Olha a maneira de vestir, os gestos e a aparência num lance, nada muito demorado, é um olhar.
As mulheres são mestres nesse olhar.
Antes que o vejam, ele se foi.

Têm um outro olhar entre desconhecidos que esse sim invade.
É um olhar acionado pelo que é diferente, ele responde à curiosidade que desperta meio surpreendida e sem ligar para nada se satisfaz a pleno, quando a vergonha chega para tentar disfarçar a curiosidade já esta toda lambuçada.

Este território intangível dos olhares tem muitas cores, muitos lasers invisíveis que falam diretamente com a intuição, nada de palavras.

O final de tudo é uma sensação. Também não é mono cromática, mas, a razão interpreta o sabor dominante e decreta: Gostei (ou: Ishhh, que é isso!).


                  Mario Quintana.

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