quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tédio !


Tédio... sabe o que é tédio ? Sabe mesmo ? Se você for jovem, sinto desapontar, mas não sabe mesmo !

O tédio era um sentimento, não sei se ainda existe em algum lugar, acho que ele foi extinto, foi-se antes que o sentimento de pudor, também em extinção, junto com sua prima a vergonha.

O tédio era um pouco ruim de sentir, enfadonho, alongado, demorado, parecia sem fim, um pouco sufocante, mas de uma coisa que sufoca sem luta, morna, sem forma, sem cor.  

Foi-se, nem nas tardes dos domingos sente-se mais, nem pelos desempregados, nem pelos que hoje pertencem à terceira idade, nem os presidiários, nem as viúvas, ninguém sente mais o tédio.

Ninguém sente sua falta, era um chato, sua presença aborrecia de uma maneira inexplicável.

Como foi extinto ? Quem o extinguiu ?
Bem, foi extinto a mando da modernidade. Tinha muitos inimigos que sempre foram duros com ele. O clube das atrações e divertimentos decretou sua extinção, mas teve o apoio da mídia e da internet. 
Sua sobrevivência tornou-se  impossível depois da internet, mas a televisão ajudou nas tardes do domingo.
Dizem às más línguas que os programas de TV do domingo são primos do Tédio. Outros dizem que são o próprio Tédio disfarçado, há quem diga que são filhos dele com uma extinta rede de TV.

Longe de mim sentir saudade do velho e aborrecido Tédio. Apenas lembrei dele nesta falta de tempo para fazer tanta coisa. 

Também lembrei dele porque era um sentimento, sou um romântico e admiro todo sentimento pacífico, principalmente o Amor. O Tédio se dava bem com o Amor. Claro que o amor nunca teve preferência por ele, mas foi sempre beneficiado com poesias e pensamentos durante os momentos de Tédio.

Se não fosse pelo Tédio muita poesia não existiria hoje.
O tempo do Tédio era sem fim, alastrava-se cinzento e mudo, sufocando como areia movediça, afundando lentamente todos os estímulos num torpor inativo.

Imaginem só a frase que estava associada ao Tédio: "Nada para fazer"  

Incrível, houve um tempo, não muito tempo atrás, em que ele existiu.



Dan


Dan não sente falta do Tédio, sente falta do tempo que existia disponível para o Tédio ser sentido. Esse tempo, que sabemos irrecuperável, tornou-se um contexto raro de um sentimento extinto. No Museu das Experiências tem lá um lugar reservado: "Tédio. (sentimento extinto)"

2 comentários:

Poemizando disse...

O tédio e o ócio criativo ainda estão presentes nos poetas pós modernos, mesmo que de forma introjetada e talvez se manifestem enquanto dormem, ou mesmo enquanto lêem o mundo e façam dele e das circunstâncias substratos para sua poesia.
Ainda espero seu contato, querido poeta.

*Laudi* disse...

Ora, você criou um belo texto, aposto que foi num momento de tédio, daqueles em que não se tem nada prá fazer. É incrível que, como nesses momentos temos a capacidade de nos envolver com sentimentos, lembranças, boas ou más. São nos momentos de tédio que paramos para pensar nas pessoas que amamos, verdade! nos outros momentos estamos muito ocupados fazendo outras coisas, porque o tédio acontece quando estamos na ociosidade.